A história de Aline Pereira é um testemunho de resiliência e amor incondicional, ao enfrentar os desafios duplos impostos pelas condições de saúde de sua mãe, Gilvaneuda, diagnosticada precocemente com Alzheimer, e de seu filho Gael, que vive no espectro autista. Sua jornada, marcada por sacrifícios pessoais e uma dedicação incansável, reflete a complexidade e a força necessárias para navegar em um cenário de cuidados contínuos e descobertas. Através de sua experiência, Aline não apenas ilumina as realidades dessas doenças, mas também se inspira e se reconecta com sua própria essência, buscando apoio e compartilhando sua vivência nas redes sociais.
Desde o momento em que a mãe de Aline recebeu o diagnóstico de Alzheimer, a vida da família de São Paulo sofreu uma transformação radical. As dificuldades se intensificaram com a descoberta do autismo no filho, exigindo de Aline uma capacidade de adaptação e uma fonte de energia que ela, por vezes, pensou não possuir. Contudo, é nesse percurso de adversidades que ela encontra novas formas de se expressar e de buscar auxílio, transformando sua dor em um espaço de conexão e aprendizado mútuo, fortalecendo não só sua família, mas também uma comunidade mais ampla que se identifica com suas lutas e vitórias.
A Luta Contra o Alzheimer da Mãe
Aline Pereira, uma cabeleireira de São Paulo de 28 anos, viu sua vida virar de cabeça para baixo com o diagnóstico de Alzheimer da mãe, Gilvaneuda, aos 52 anos. A doença neurodegenerativa, caracterizada pela perda gradual de memória e outras funções cognitivas, demandou que Aline abandonasse sua profissão para cuidar da mãe em tempo integral. Os primeiros sinais apareceram quando Gilvaneuda tinha 51 anos, manifestando-se como esquecimento de objetos, dificuldade em atravessar ruas, deixar o fogão ligado e se perder em caminhos familiares. Inicialmente, a família interpretou esses sinais como estresse, mas a persistência e o agravamento dos sintomas levaram à consulta com um neurologista, que confirmou o diagnóstico de Alzheimer. A princípio, houve uma fase de negação, com a crença de que a medicação traria a cura, mas a realidade da progressão da doença, especialmente com o surgimento de alucinações, forçou Aline a uma dedicação exclusiva, impactando profundamente sua vida pessoal e emocional.
A progressão da doença trouxe momentos de grande desespero para Aline. A mãe começou a ter comportamentos destrutivos, como quebrar objetos e brigar com o próprio reflexo, além de sofrer de alucinações severas, vendo pessoas que não existiam e acreditando que não era amada. Esses episódios causaram imensa angústia em Aline, que se viu impotente diante do sofrimento da mãe. A necessidade de gerenciar essas crises, aliada à rotina de organização diária que se desfazia pela ação da doença, levou Aline a uma exaustão emocional, sentindo-se, por vezes, depressiva. A mãe, gradualmente, deixou de reconhecer a filha, exigindo de Aline um esforço contínuo para manter a calma e adaptar-se a essa nova realidade. A busca por um psiquiatra para a mãe e a ausência de melhora imediata no tratamento adicionaram mais uma camada de complexidade e frustração à já desafiadora situação familiar.
Equilibrando Cuidados: Autismo e Autodescoberta
Simultaneamente aos desafios do Alzheimer da mãe, Aline enfrentou a suspeita e, posteriormente, o diagnóstico de autismo nível 2 em seu filho Gael, de 3 anos. Desde os sete meses, Aline notou comportamentos atípicos, como brincadeiras diferentes com carrinhos e falta de resposta ao ser chamado. Apesar da inicial desconsideração de um neurologista, a intuição materna de Aline a impulsionou a buscar uma segunda opinião, confirmando o diagnóstico quando Gael tinha 1 ano e nove meses. A notícia, embora um choque, motivou Aline a agir imediatamente em busca de terapias e acompanhamentos para o filho. Após um período de espera, Gael conseguiu acesso a psicólogo, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo, e os progressos, mesmo que pequenos, como a compreensão de comandos e a emissão de algumas palavras, trouxeram um sopro de esperança e alegria para a família, mostrando a capacidade de evolução do menino.
A rotina de Aline, já intensa com os cuidados da mãe, tornou-se ainda mais exigente com as necessidades de Gael. Conciliar as demandas de ambos os familiares, enquanto lidava com a ansiedade e a perda de sua própria identidade, foi um teste de sua força interior. No entanto, o progresso de Gael e o apoio que encontrou foram transformadores. Compartilhando sua jornada nas redes sociais (@atipicasingular), Aline não só construiu uma comunidade de mais de 32 mil seguidores, mas também encontrou um novo propósito e ânimo. Os vídeos se tornaram uma forma de distração e de reconexão consigo mesma, permitindo-lhe ver "o mundo um pouquinho lá fora" e redescobrir seus próprios gostos e sonhos. A solidariedade de outras pessoas em situações semelhantes e o contato com profissionais que ofereceram suporte gratuito, incluindo uma psicóloga para si mesma, foram cruciais para que Aline se sentisse vista e fortalecida para continuar sua dupla jornada de amor e cuidado.